Exu (Orixá)

A controversa divindade africana é conhecida pela sua alegria, por ser bom para uns e mau para outros. Na verdade, Exu é mal compreendido por muitos, pois ele é o detentor da ordem, organização e disciplina, virtudes estas que se dão através do caos que Exu causa. Há um antigo provérbio iorubá que resume o porquê de Exu ser mal compreendido por muitos: “Olotó ni òtá aiyé” (Aquele que diz a verdade é inimigo dos seres).

Exu é uma das mais importantes divindades africanas, podemos dizer que sem ele o mundo não faria sentido, pois é ele quem faz a comunicação entre o Orun com o Aiyê. Exu se dá nesses encontros, por isso é representado pelo encontro de estradas, as encruzilhadas.

Seguindo essa linha, torna-se compreensível Exu se relacionar com todos os orixás e com todos os seres dos reinos mineral, vegetal, animal e humano, Exu fala todas as línguas. Por isso é atribuído a ele o poder de manipular o ebó, para que traga alívios aos sofrimentos humanos. Ele fornece a energia necessária para a manipulação e transporte, estabelecendo os canais de comunicação, por essa razão Exu é sempre oferendado primeiro.

Sua oferenda se dá no Ipadé ou popularmente conhecido como Padê. O Ipadé consiste de preparativos culinários, muitas vezes farofa e sacrifícios animais. O Ipadé seria como se estivéssemos pedindo para Exu ficar de guardião e mensageiro, para que avise aos orixás que estamos precisando deles no Aiyê (Terra).

Reciprocidade é algo intrínseco em Exu, pois ao cultuá-lo é necessário que saibamos cuidar. Não usarei a palavra “agradar”, pois sinto que soa como algo de puro interesse da parte de Exu, eu diria retribuir, alimentar o Axé. Exu não é algo que se pede, se ativa e esquece, com Exu está firmado um elo de disciplina e ordem.

É necessário paciência para adquirir ordem, organização e disciplina com Exu, pois o caos e a bagunça é o caminho para essas virtudes. Digamos que Exu nos tira da zona de conforto, nos diz a verdade para que possamos estabelecer um balanceamento justo de nossas ações e sentimentos, a fim de transformarmos nossa vida. Tal é o motivo da palavra Exu significar esfera, sempre em movimento!

Nesse mesmo pensamento é possível entender o porquê de Exu conter nele mesmo todas as contradições e conflitos dos homens, por isso Exu é o mais próximo dos seres humanos. Ele entende a humanidade, defeitos e virtudes, como ninguém.

Exu tem forte ligação com a sexualidade, a fertilidade masculina, mas não restringindo somente ao sentido sexual e sim a vitalidade como um todo para o ser diante da vida e suas adversidades. O caráter sexual de Exu é muito relacionado com o vodun daomeano Legba, que possui características e atribuições muito semelhantes. Suas estatuetas são muito representadas por um caráter fálico bem acentuado.

A vitalidade se dá, não somente no sentido sexual, como também em ser vital diante da vida. Ter a energia, ação, diante dos mais diversos aspectos da vida, a vitalidade de estar vivo.

O Ogó, instrumento de Exu feito de madeira, é representado por um formato fálico, juntamente com cabaças, remetendo a anatomia masculina. Este instrumento é detentor de muitos poderes, simbolizando o poder da criação que perpetua a vida. É um instrumento muito usado em assentamentos e na ritualística de Exu, não representando nenhum tipo de imoralidade ou vulgaridade.

Exu é o Orixá guardião do Axé, e é cultuado por todas as tribos Iorubás, sendo representado em seus assentamentos com pedra porosa ou um monte de terra modelado (sem muita precisão) na forma humana, com olhos e bocas feitos de búzio. 

Sua saudação mais conhecida é “Láròíyé” (Salve o que anda na Terra ou salve o mensageiro). Além dessa, outras saudações são usadas para Exu, muitas vezes dependendo da situação ou qualidade do Orixá. Elas são:

∙ Mojubá: Soaria algo como “Exu, a vós meus respeitos”.

∙ Elegbara ou Bará: Essa expressão remete muito à virilidade, à força de exu, seria se estivéssemos dizendo “Exu, aquele que é detentor do poder”.

∙ Ina Ina: É um termo de origem Iorubá que se pronuncia como “inã”, e sua etimologia está relacionado a algo como Exu do fogo. Como no caso anterior, essa é uma saudação que faz parte do mistério Exu.

∙ Odara: É uma terminologia muito usado para simbolizar o belo.

∙ Ojixé: É uma qualificação e saudação sobre Exu e a regência dos caminhos.

∙ Kobá Laroié: O termo Kobá é entendido como uma reverência a rei, seria algo como “Salve Rei Exu”.

Os termos de saudação colocados acima estão com seus significados de forma resumida, seria interessante uma busca e pesquisa mais profunda para cada um deles, em um post futuro, trarei melhor cada uma delas.

E para finalizar, vou trazer as 16 principais qualidades do orixá Exu: 

∙ Exu Yangi: Primeiro Exu criado, é o Exu ancestral que representa todos os Exus individuais. É a pedra de laterita, vermelha – montículo de terra e protoforma que dá unidade a Exu. Divindades relacionadas: Oxum e Oxalá. 

∙ Exu Agbà (ou Agbo): Exu ancestral; muito ligado a Exu Yangi e também representante da Criação. Veste branco. Divindades relacionadas: Exu Yangi e Orunmilá. 

∙Exu Igbá Ketá: Exu ligado ao número três e à triplicidade. É representado por três cabaças. 

∙Exu Okòtò: Exu da evolução, da espiralidade e do infinito. Usa como símbolo os caracóis espiralados. Divindade relacionada: Ajé Xalungá. 

∙Exu Obá (ou Exu Babá Obá): Rei dos Exus; Exu ligado ao poder real. Divindade relacionada: Xangô. 

∙Exu Odàrà: Exu do branco, Senhor da felicidade, da calmaria e da benesse. Veste branco, com poucos adereços vermelhos e pretos. Divindade relacionada: Oxalá.

∙Exu Òsíjè (ou Ojixebó): Como Exu Eleru (Elebó), é um Exu das oferendas e principalmente dos sacrifícios. Ojisé leva ao Orun e a Olodumare os pedidos da humanidade. É um dos grandes aspectos de Exu como mensageiro divino. Divindades relacionadas: Exu Eleru, Olodumare, Orunmilá. 

∙Exu Elérù: É o Exu do carrego, auxiliando a humanidade a se desvencilhar dos atrapalhos. Veste preto e vermelho. Divindades relacionadas: Babá Egum, Odus. 

∙Exu Enu Gbáríjo: É o Exu que transforma as oferendas e sacrifícios em benefícios para os fiéis. Representa a boca coletiva dos Orixás.

∙ Exu Elegbárà: É o Senhor do Poder, o Exu da transformação e da magia. Vermelho, preto e branco. Carrega cabaças com a força da propagação. Divindades relacionadas: Ogum, Yemanjá. 

∙ Exu Bárà: Exu ligado ao corpo humano. É ele que dá movimento aos nossos corpos e se liga à circulação do axé em nosso corpo. É o mensageiro entre o Ori e as Divindades. Divindades relacionadas: Ori e o Orixá principal (eledá) de cada um de nós.

∙ Exu L’Onan: É o Exu de todos os caminhos, portões e porteiras. Traz os clientes e amigos e vigia as entradas. Veste vermelho, preto e azul arroxeado. Carrega foice. Divindades relacionadas: Oxum, Oyá, Ogum.

∙ Exu Ol’ Obé: Senhor da faca ritual, saudado no início dos sacrifícios. Ele é também o guardiãodas oferendas deixadas em locais públicos. Veste azul arroxeado. Divindadesrelacionadas: Ogum (principalmente Xoroquê), Exu Ojisé, Exu Eleru.

∙ El’Ébó: Senhor das oferendas, portador e mensageiro. É sempre o primeiro a ser invocado. Veste preto e vermelho, é dono do dendê (Epô Pupá); Ele é quem carrega o dendê na peneira.

∙ Exu Alàfiá: Exu da satisfação plena. Divindade relacionada: Orunmilá.

∙ Exu Oduso: Exu que vigia os processos oraculares para que não haja perguntas inapropriadas e nem mentiras por parte do advinho. Tem seu rosto retratado no Opon Ifá. Divindades relacionadas: Exu Akesan, Orunmilá, Oxumarê e Oxum.

Isso foi um pouco sobre Exu, divindade Africana que muitos demonizam, que muitos temem ser amaldiçoados, mas que poucos entendem ou ousam buscar entender. A única verdade concreta que temos sobre o senhor da controvérsia é que não se pode definir Exu. 

Mojubá! Muito axé a todos!

Leon Ferrari

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