Ogum


Um dos Orixás mais cultuados na África, de grande bravura e força, Ogum estabelece grande importância no panteão africano, sendo escolhido por Elédùnmarè para abrir caminhos à civilização no Aiyê (Terra).

O filho mais enérgico de Odùduà, conhecido por sua bravura, muitas vezes é temido e mal compreendido, mas a verdade é que Ogum, assim como seus filhos, são perseguidores dos seus objetivos, não descansando até conseguir, tal como um guerreiro.

Patrono dos ferreiros, guerreiros e todos que lidam com o aço, Ogum é um Orixá que rege a tecnologia, mineração, metalurgia, trabalho e agricultura, esse último esquecido por muitos, pois é o criador das ferramentas e das armas que o homem usa em seu ofício. Como foi dito acima, muitas pessoas esquecem ou até não possuem o conhecimento de que Ogum é o Orixá que rege a agricultura. 

Segundo pesquisas, isso tem ocorrido devido às lendas de Ogum mais conhecidas, que sempre abordam as guerras. E erroneamente as pessoas têm assimilado Ogum apenas como bravo, vingativo, esquecendo sua grande generosidade abençoando as colheitas.

Uma lenda de Ogum:

“Ogum providenciou tudo antes de descer ao Aiyê e em pouco tempo foi reconhecido por seus feitos. Cultivou a terra e plantou, fazendo com que dela o milho e o inhame brotassem em abundância. Ogum ensinou aos homens a produção do alimento, dando-lhes o segredo da colheita, tornando-se assim o patrono da agricultura. Ensinou a caçar e a forjar o ferro. Por tudo isso foi aclamado rei de Irê, o Onirê. Ogum é aquele a quem pertence tudo de criativo no mundo, aquele que tem uma casa onde todos podem entrar.”

Ogum é representado por estradas, o que já é autoexplicativo. Mas também podemos representar Ogum por espada, faca, bigorna, pá, enxada e outras ferramentas.

Esse grande Orixá também possui qualidades, que são muitas, mas as mais destacadas são:

*Lembrando que citarei aqui as qualidades de culto africano.

∙ Ògún Oniré: Quando foi aclamado rei de Irê.

∙ Ògún Akoró: Usa o Màrìwò como roupa e coroa, toma conta das casas de Oxalá. Não come mel.

∙ Ògún Alagbèdé: Ogum dos ferreiros, ferramenteiros e da ancestralidade.

∙ Ògún Je Ajá ou Ogunjá: Significa “Ogum come cachorro”, nome dado a Ogum enquanto comia cachorros em Irê, após ter se enfurecido e cortado a cabeça de várias pessoas por não o reverenciarem, diante do silêncio geral decretado na cidade por seu filho. É um Ogum muito quente.

∙ Ògún Mèje: Cuida das sete estradas de Irê.

∙ Ògún Ominí:  Ligado a Oxum, cultuado em Ijexá.

∙ Ògún Wàrí: Ferreiro de metais dourados, o mais requintado dos Oguns.

Além dessas qualidades do culto africano de Ogum (e do candomblé também), existem outras qualidades de Ogum cultuadas na Umbanda, que são forças atuantes nos pontos de força de cada Orixá. Elas são:

Ogum Beira-Mar/Sete Ondas (mar), Ogum Rompe Mato (matas), Ogum Megê (cemitérios), Ogum Naruê (bambuzais), Ogum Matinata (campos abertos), Ogum Yara (cachoeiras), Ogum Nagô (umbral/ganga), Ogum Malei (moradas de Exu), Ogum de Lei (todos os caminhos).

Existe também a grande discussão e porque não dizermos confusão, quando se fala de Ògún Sòhòkwè (o famoso Ogum Xoroquê). Por muitos ele é considerado uma qualidade de Ogum, mas após muitas pesquisas, fica muito plausível que Ògún Sòhòkwè é um vòdún.

Sòhòkwè, é um vòdún filho de Mawu e Lissá, que tem como principal elemento o fogo. Mas devido a misturas de culto, Ògún Sòhòkwè tem sido confundido como um dos caminhos de Ògún.

Seu nome deriva do termo Sòròrò, que significa descer ou escorrer, e do termo òkè, que significa montanha. Isso é dado à lenda de que Ògún Sòhòkwè desceu da montanha ou vulcão, cuspindo fogo, sendo o senhor do caminho do fogo liquido. Ògún Sòhòkwè é cultuado no jeje, onde ele não é nem Exu e nem Ogum e sim um vòdún independente.

Para falar de Ògún Sòhòkwè, precisamos de um texto somente dele. Futuramente quem sabe?

Voltando a falar essencialmente de Ogum, sua saudação é “Ògún ieé”, que carrega o significado de “Olá Ogum”, segundo Pierre Verger. Mas muitos atribuem o significado de “Salve Ogum”. Também é comum saudar dizendo “Patakori Ogum”, que segundos pesquisas, a etimologia traz o seguinte significado:

• Pataki = “cortar”.
• Ori = “cabeça”, “coroa”.

E seguindo isso, muitos atribuem essa saudação como, “Ogum supremo, principal Orixá de nossa cabeça”, “Salve Ogum o principal da cabeça” ou até como “Salve o cortador de cabeças”.
Ogum é sincretizado com vários santos. No Brasil, o mais conhecido entre eles é São Jorge, mas na Bahia Ogum é sincretizado com Santo Antônio de Pádua. E em Cuba com São João Batista e São Pedro.

Ogum é aquele Orixá que todos podem contar em suas lutas internas, nos seus dragões interiores a serem vencidos. Ogum é o Orixá que sempre vem para nos fortalecer e despertar o guerreiro que habita dentro de nós. Limitar Ogum apenas ao sangue e à guerra, é ser praticamente conhecedor de nada sobre esse Orixá. Na verdade, todos os Orixás carregam em seu simbolismo, a chave para mudanças efetivas dentro de cada um de nós. Claro que cada um representa um fator externo e material, como metalurgia, fartura e etc. Mas o que digo é o simbolismo da essência de cada Orixá, que pode ser levado para nossa essência em busca da compreensão, cura e evolução de nossa alma. E o simbolismo de Ogum, é despertar o guerreiro interior, vencendo a nós mesmos a cada dia, tornando-nos cada vez mais conscientes e despertos de nós mesmos.

Muito axé a todos!

Leon Ferrari

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