Omolu


A terra, eis Omolu! Temido e reverenciado, o silêncio se instala na sua presença. De aparência marcante que instiga o mistério e a curiosidade, Omolu é sem dúvida um Orixá de grande poder e magia entre as divindades africanas. Possuidor da regência sobre o elemento terra, seria muito pobre dizer que Omolu rege a terra de forma superficial, mas sim, ele a rege da forma mais profunda, no interior da Terra. Estabelecendo uma forte relação com a lava vulcânica e gases, o fogo interior da Terra, poderoso tal qual suas febres e curas.

Em muitas leituras é possível encontrar Omolu não somente como o Orixá de pragas e doenças, mas também de grande poder curativo, tanto externo como interno, não somente de doenças físicas, mas emocionais também. Um reflexo justo da pipoca (Deburu), onde o milho duro sob calor e pressão se transforma em uma linda e singular flor. Toda mudança vem de dentro para fora, motivo de Omolu também ser associado ao Orixá da transformação.

Seu culto é muito antigo e sua origem é incerta, pois era cultuado por muitos povos na África. A maioria das leituras o trazem como originário da região de Empe, sendo rei de Tapa, também chamado de Nupe. Estudos dizem que seu culto passou a ser difundido a partir de uma aldeia chamada Pingini Vedji, próximo a Dassa Zumê. Também encontra-se o culto forte em Savalu, também região de Mahi.

Muitos são os seus nomes na África, sendo chamado de Sànpònná ou Xapanã, (algumas literaturas dizem que Xapanã é uma divindade distinta de Omolu, outras dizem que não) entre os Fon era conhecido como Sakpata (Dono da terra), já entre os Iorubás é chamado Obaluaiê e Omolu, em Ketu é chamado de Abeokutá. Em estudos muito profundos chega-se a entender Omolu sendo a mesma coisa que Nanã Buruku, e Obaluaiê sendo a divindade da cura. Mas isso é uma outra história que merece um post exclusivo. Particularmente na casa que faço parte, Omolu e Obaluaiê são cultuados como Orixás distintos, assim como Nanã.

Omolu tem como ferramentas e elementos o Xaxará que é confeccionado com nervuras da folha de dendezeiro, palha da costa, búzios e cabaça. O Xaxará tem a finalidade de afastar eguns e eliminar energias negativas, bem como conter doenças. Além do Xaxará, Omolu possui o Íleo que é uma lança de madeira e o Lagdibá que é um fio de contas feito de chifre de búfalo cortado em pequenos discos, comumente usado na cor preta.

A roupagem característica de Omolu é confeccionada de palhas da costa, e contrário ao que muitos dizem, as palhas não são para cobrir suas feridas e sim para conter toda a luz interior, de tão intenso que tornou seu brilho. O Aze (Capuz de palha da costa) cobre o rosto de Omolu para que não olhemos diretamente para o seu rosto, instigando o desconhecido. O Aze contém mistérios que não são para simples mortais, revelando verdades que exigem cuidado.

A relação de Omolu com a morte, se dá não necessariamente por ele ser Orixá das doenças, mas por ele ser Orixá com poder sobre a terra. O homem nasce e para a terra volta, recebido por Omolu no astral. E assim o ciclo se repete!

Sua festa anual é conhecida como Olubajé, onde se oferece alguns alimentos a Omolu, como pratos de aberem, milho cozido enrolado em folhas de bananeira, carne de bode, galos e pipocas.

As mais conhecidas qualidades de Omolu são:

(Lembrando que na Umbanda não se cultua qualidades de Omolu, nem Obaluaiê.) 

∙ Afomam: Carrega duas bolsas de onde tira as chagas. Anda com Ogun.
∙ Agòrò: Sua roupa possui barras com palha e é de cor branca.
∙ Akavan: Veste-se estampado e anda com Iansã.
∙ Ajágùnsí: Tem ligação com Nanã e Oxumaré.
∙ Azoani: Veste palha vermelha, tem ligação com Iansã, Oxumaré e Iemanjá.
∙ Azonsu: Carrega a lança em suas mãos, vestido de branco com ligação com Oxalá, Oxumaré e Oxum.
∙ Jagun Àgbá: Anda com Iemanjá e Oxalufan. *
∙ Jagun Ajòjí: Anda com Ogun, Oxaguian e Exú. *
∙ Jagun Arawe: Ligado a Iansã e Oxaguian. *
∙ Jagun Igbonà: Ligação com Oxaguian e Obá. *
∙ Jagun Itunbé: Não gosta de feijão preto e está ligado a Oxaguian e Oxalufan, come caracol. *
∙ Jagun Odé: Tem ligação com Ogun, Logun e Oxaguian. *

*Apenas algumas nações cultuam Jagun como qualidade de Obaluaiê.

Muito além de temível e cruel, como é dito pela maioria, Omolu é senhor de grande amor e sabedoria. Um caminhante ancião que viajou por toda a humanidade, que conhece todas as doenças humanas, não só externas, como internas também. Permitir Omolu viver em nós, é permitir a mudança contínua, não estacionando em um único ponto, e sim estar sempre caminhando por nós mesmos na maravilhosa descoberta das infinitas curas que somos capazes de nos proporcionar. Que esta cura interior seja extensão de sua vida, não para que curemos os outros, mas para que possamos tocar o outro a fim de despertar seu poder de cura pessoal.

Omolu é amor que irradia no desconhecido mistério de suas palhas, é luz que dá sustento à vida, impondo-se contra qualquer doença. Omolu é enfermidade que nos ensina a nos olharmos e aprender o real valor das coisas simples. Ser simples é ser Omolu, pois toda complexidade inalcançável para o intelecto humano, reside no simples. Omolu é vida! Axé para todos! 

Leon Ferrari

Comentários

Postar um comentário